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Todas as semanas com um toque de humanidade para tempos de pressa e plástico.
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Viver em outro país foi um desejo que carreguei por muito tempo.
Morar fora eu até morei — Angola, Canadá —, mas nunca vivi, pois, apesar de lá, eu estava sempre aqui.
Hoje sei que não queria viver em outro lugar; queria mudar.
Desejava a mudança para uma outra vida e a ansiedade do desconhecido e a possibilidade por conhecer. A cada novo começo abre-se um mundo de esperanças trancadas na repetição da mesmice. Ilusão.
O mundo não está nas coisas, está em nós.
Passada a embriaguez da novidade, a vida mudada se assenta na sobriedade do que somos. Às vezes com alguns problemas novos, é verdade, mas com as dificuldades de sempre.
Depois da terceira mudança, a dificuldade vira vício; se antes temida, agora desejada: a abstinência nos impede de ficar. Um ficar que não é tão somente permanecer. É escolher viver assim como se está, e não como se deveria ser. Um desejo que, se descuidado, vira fuga.
Depois da terceira mudança, surge a certeza de que sempre há um lugar para fugir, para recomeçar. Um recomeçar preso à ruptura, como se o recomeço já não existisse entre uma inspiração e outra.
A certeza de que podemos fugir nos impede de ficar. Fantasiamos mundos que não existem, na esperança de que os criaremos — jamais aqui, sempre lá. Um “lá” que a cada mudança temos certeza de encontrar, até que a monotonia nos mostre que o lá de agora não é nosso lugar de ficar. Fugimos.
Nem sempre é fuga; mudar faz bem. Tão bem que coisas boas acontecem na mudança de um dia de trabalho do escritório por aquela cafeteria — ou em qualquer outro lugar liberto da monotonia.
Mudar é preciso. Não somos capazes de ficar. Afinal, estamos sempre indo. A ilusão de uma vida estática nos afunda. É certo que a mudança não exige uma revolução, tampouco uma desconstrução. Mudanças assim existem, mas estão longe de ser a melhor opção. Na condição de escolher, encaixote e leve consigo o já feito. Bem ou mal, esse é o substrato para algo diferente.
De todas as mudanças pelas quais já passei, e olha que já foram mais do que me orgulhe de contar, as piores foram as motivadas por esse desejo de ruptura, pela ilusão de que “lá” o amanhã se reinventará. Sem me dar conta de que, aqui ou acolá, eu estaria comigo em todo lugar.
Antes de mudar vale checar se o desejo é por uma porta para avançar ou por uma janela para escapar. Na dúvida entre ficar ou mudar, hoje, sei que é melhor ficar e mudar.
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Quem sabe não ajuda alguém que está tentando decidir se muda ou se fica.
Um abraço,
Zara
Escrevo sobre ser humano em tempos de pressa e plástico.