Devaneios de Ontem são textos que escrevo diariamente mas raramente publico.
Há em mim uma estranha sensação de dois.
Dois que se somam e se tornam um. Dois que coexistem, separados e, no entanto, interligados. É o peso sutil da dualidade, o que me faz ser ao mesmo tempo claro e obscuro, sereno e inquieto, confiante e covarde. Contradições que se olham de longe, com a estranha ternura de quem sabe que o outro é inevitável.
Há sempre o movimento.
A dualidade é o respirar do universo, o sim e o não, o dia e a noite que se abraçam na penumbra do crepúsculo, onde as sombras não são escuras nem claras, apenas são. Existe em cada ser uma dança de opostos silenciosos que se completam sem se anular.
Sou assim também, porque a vida é assim.
Mas o dualismo... Ah, o dualismo pesa mais. Ele é rígido. Ele separa. Ele corta com a precisão fria de uma faca afiada. Mente e corpo, matéria e espírito, vida e morte. Ele é a imposição de um limite que não existe, uma linha impossível de traçar.
No dualismo, a mente flutua no vazio, enquanto o corpo caminha na terra árida.
São dois que não se olham, dois que se recusam. Como se viver significasse escolher entre realidades. Como se sentir significasse dividir-me em partes — e nunca ser inteiro. E eu, que sou tanto mente quanto corpo, que sou tanto matéria quanto espírito, não posso navegar nessa fragmentação.
O dualismo, cruel, quer me partir ao meio.
Quer que eu escolha entre o que sou e o que posso ser. Mas como escolher? Eu não sou uma coisa nem outra. Eu sou os dois, mesmo que um ignore o outro, enquanto caminham em direções opostas. Mesmo que a alma grite enquanto o corpo se cala.
A dualidade me permite ver a ponte entre esses dois mundos. Enquanto o dualismo quer que eu caia no abismo que há entre eles.
Talvez viver seja isso: equilibrar-se na borda da dualidade sem sucumbir à tirania do dualismo. Permitir-se sentir a alma nos ossos, ver o invisível nos gestos mais simples.
Talvez viver seja não saber, e ainda continuar, com a firmeza de quem abraça a incerteza de ser dois que se fazem um, sem nunca se dividir para assim existir.
Provavelmente não responderá esse comentário (Provavelmente nem lerá). Mas o seu Substack (Se é assim que digita) conseguiu dizer exatamente o que recentemente ando percebendo... Antes de eu descobrir isso, eu vivia sonhos inimagináveis na minha mente, enquanto meu corpo apenas estava parado. Percebi que todas as minhas imaginações não iram se realizar a não ser que eu as coloque-as no presente. Descobri um conceito na Psicologia Chamado Maladptive DayDreaming (Ou Desvaneios Excessivos) onde procuramos sempre nos imaginar para que não focamos no presente. Ou seja Fugimos do presente usando a imaginação.
Quando eu abri meus olhos em relação a isso, durante alguns dias, eu fiquei assustada, porque me sentia vazia... mas eu pensei "Tudo o que imagino não ira se concretizar, então preciso fazer isso no presente". E foi assim, tudo que eu precisava fazer fiz, além de estudar melhor, correr melhor, focar no presente é algo realmente maravilhoso e misterioso. So que Desvaneios Excessivos são que nem um vício, eu estou lutando para acabar com esse vício.
"Existe em cada ser uma dança de opostos silenciosos que se completam sem se anular." Antes de ver o título do texto (raramente leio o título, não sei por que), me veio ao fim da leitura que 1+1 = 1. parte 1+ Parte 2 = a eu inteira. Poderia até ser 1+ 2 = 1. E acabou sendo seu título! Achei interessante pensar sobre isso, poque somos inteiros a partir de somas de pedaços que querem existir separadamente, no entanto não podem. Acho que vou filosofar durante um tempo nesse aqui. Até postei no instagram (@maira.metelo.author) , não sabia seu nome lá, apenas direcionei para o Além da Dopamina.