Opa! Zara aqui.
Esta é mais uma edição da Além da Dopamina.
Tempo de leitura: 5 minutos.
Ainda acho que este é o tipo de texto que nem precisaria ser escrito — assim como essa frase jamais deveria abrir um texto. Decidi sacrificar minhas impressões porque acredito que lhe devo alguma satisfação.
Eu escrevo online desde 2018. E não apenas por prazer: este é meu trabalho. Sem novidade até aqui.
O que você não sabe é que decidi separar as duas coisas: escrita e trabalho.
Posto dessa forma, até eu acreditei que tenha sido uma decisão fácil. Não, não foi. Estou há pelo menos um ano nesse jiu-jitsu mental tentando me convencer de uma decisão que já havia sido tomada de forma inconsciente há um bom tempo.
Este texto não é apenas motivado pelo meu desejo de lhe dar uma satisfação, tampouco pela minha necessidade de oficializar a decisão. Quero aproveitá-lo para compartilhar duas ou três coisas que podem ser úteis na sua jornada.
Não posso dizer que não tentei.
Olha, nos últimos anos testei um bocado de modelos de negócios: coprodução, ter agência, trabalhar em agência, prestação de serviços… por último, pensei em consultorias, mas logo percebi que seria necessário construir um negócio em torno dessas habilidades.
Para ser sincero, desde que encerrei minha primeira operação, não queria me ver outra vez envolto em fluxos de caixa, contratações, e uma constante preocupação se as contas fechariam ou não. Um negócio que me rendeu um bom dinheiro, mas me custou mais do que estava disposto a pagar: terminei com um burnout.
Eu demorei muito para entender que construir um negócio é diferente de monetizar uma habilidade.
Por melhor que eu fosse em seja lá no que me propusesse a fazer, a partir do momento que essa habilidade vira um negócio é preciso deixar de fazer o que vinha fazendo para começar a cuidar do negócio. A não ser, é claro, que essa habilidade seja a de construir negócios — o que não é o meu caso. É assim com todo mundo? Talvez não. Mas essa é a regra e não a exceção. Demorei tanto para perceber isso que passei boa parte dos últimos anos vendendo minhas habilidades enquanto vivia iludido achando que tinha um negócio.
Pode ser que a esta altura você tenha pensamentos do tipo:
“Mais um fracassado; comigo é diferente”.
Eu te entendo. Escrevo estas palavras incomodado com o retrogosto do fracasso. E há alguns anos eu pensaria exatamente como você. Um tempo em que vivia com a certeza de que comigo seria diferente; de que eu era especial; de que o próximo projeto seria o ponto de inflexão; que eu estava a um passo da riqueza.
Aliás, a riqueza até que veio, mas o dinheiro ia com a mesma velocidade que vinha. Eu subestimei o estrago que as apostas em cursos, mentorias e negócios errados poderiam fazer às minhas economias.
Não culpo aqueles que me iludiram, afinal, a ilusão é uma estrutura de duas partes: o que ilude precisa do deseja a ilusão.
Minha soberba camuflada de autoconfiança me cegou.
Uma confiança que foi perdendo contorno conforme me afastava do Instagram, que foi sendo desconstruída a cada semana que vivia fora da bolha do “marketing digital”. Crescia junto com a distância dessa bolha a certeza de que eu deveria voltar trabalhar de um jeito normal, construir uma carreira normal. Afinal, estaria trocando a insegurança de acordos que terminam em uma mensagem de WhatsApp, um pouco da minha liberdade, algumas cifras e o conforto da minha casa por um caminho mais seguro. Nada mais justo. Uma segurança que nem vale tanto assim para mim, mas que pode ser tudo para minha família.
Bom, vim parar na internet atraído pela promessa de liberdade e principalmente pela promessa de que aqui poderia estudar, escrever e ensinar sobre assuntos que me interessam. E claro que isso é possível, mas para viver disso é preciso transformar essa atividade em um negócio. Demorei para entender isso, mas levei ainda mais tempo para reconhecer para mim mesmo que eu não queria ter um negócio.
Escrevo este texto para oficializar — para mim e para você — que estou voltando a trabalhar como uma pessoa “normal”, com direito a currículo atualizado e perfil no LinkedIn e tudo.
Por aqui, nada muda.
Não vou parar de escrever, mas a motivação muda: se antes o objetivo da Além da Dopamina era alimentar meu corpo, agora ela passará a alimentar minha alma.
A Além da Dopamina nasceu com outro nome e propósito: em uma era que se chamava de Devaneios de Ontem, eu escrevia pelo simples prazer de escrever. À medida que mais gente chegou, meu lado marqueteiro falou mais alto, achei que precisava transformar isso daqui em uma lojinha.
Não há nada de errado em fazer dinheiro escrevendo, mas eu decidi que não quero escrever pelo dinheiro.
Em algum momento percebi que estava caindo no mesmo erro do meu primeiro empreendimento: estava criando um negócio que não queria estar nele, que seria questão de tempo até estar atolado até o pescoço em todo tipo de atividade, menos na escrita.
Para você que fica, espere encontrar por aqui textos sobre filosofia, literatura, cultura e insubmissão intelectual.
Não é uma mudança de rota; é uma volta às origens.
Gosto de olhar para Além da Dopamina como um reflexo dos meus pensamentos em três momentos:
Pensamentos pessoais e provocações culturais e filosóficas.
Reflexões práticas para criação de conteúdo.
Pensamentos pessoais e provocações culturais e filosóficas.
Termino este texto com a certeza de que ele não foi desnecessário, eu precisava oficializar essa volta às raízes, e com a expectativa de que ele tenha provocado ao menos uma reflexão útil por aí.
Um abraço,
Obrigada pelo texto, Zara. Acredito que é raro aprender com as experiências alheias, mas há que se fazer o esforço, e ainda há poucos dias um amigo me aconselhava a manter meu Substack como um hobby. Parece ser mesmo o melhor caminho. :)
Tentar é preciso. Sempre. Talvez seja uma oportunidade de crescer por outros caminhos. Felicidades.